Produção e Inovação
A produção das rendas do Pico segue um processo artesanal transmitido ao longo de várias gerações. Com o tempo, as técnicas foram evoluindo, adaptando-se às exigências do mercado e às novas gerações de rendeiras, mas sem perder o cuidado e a precisão característicos desta tradição. Além disso, as rendeiras do Pico têm sido reconhecidas em exposições e eventos, trazendo inovações ao seu trabalho, mantendo viva uma prática secular.
PROCESSO DE FABRICO
O processo de fabrico das rendas é um trabalho minucioso, que requer habilidade e paciência. Cada peça pode levar semanas ou até meses a ser concluída, dependendo da sua complexidade. Desde a escolha dos materiais até à finalização dos detalhes mais pequenos, a produção artesanal das rendas do Pico segue uma sequência que se mantém fiel às suas origens, com algumas inovações ao longo do tempo.
COMO SÃO FEITAS AS RENDAS
As rendas começam com o desenho do padrão, que pode ser feito à mão ou seguindo moldes tradicionais transmitidos entre gerações. A rendeira utiliza uma agulha fina e fio, normalmente de algodão ou linho, para começar a tecer o padrão com pontos de costura delicados. Em alguns casos, o processo começa com a preparação do tecido, onde são desenhadas marcas ou alinhavados contornos que guiarão a costura da renda.
Cada ponto deve ser ajustado com precisão para garantir que o desenho se mantém firme e detalhado ao longo de toda a peça. Alguns dos pontos mais utilizados incluem o ponto de caseado, o ponto de cordão e o ponto de nó, que servem para criar diferentes texturas e relevos na renda.

MATERIAIS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS
Os materiais usados na produção de rendas incluem principalmente o fio de algodão ou linho, que pode variar em espessura conforme o tipo de renda que se pretende criar. Além do fio, as rendeiras utilizam outros instrumentos essenciais, como:
Farpa: Um pequeno pau ou ferramenta que ajuda a separar e segurar os fios ao longo do trabalho, criando os picos ou frisos característicos das rendas do Pico.
Pau: Usado para manter a tensão dos fios ou para alinhar as partes da renda enquanto a peça vai sendo trabalhada.
Agulhas finas: As rendeiras utilizam agulhas muito finas, adequadas para o trabalho delicado que envolve a criação de pequenos pontos de renda.
Além disso, são utilizadas almofadas para suportar o trabalho de bilros, quando este é necessário, e moldes de papel ou tecido para guiar a rendeira no padrão que deve seguir.
A EVOLUÇÃO DAS TÉCNICAS AO LONGO DO TEMPO
As técnicas usadas na produção de rendas do Pico mantêm-se bastante fiéis às tradições passadas, mas têm evoluído com o tempo, especialmente em termos de acabamento e de adaptação às novas exigências do mercado. Nos séculos XIX e XX, a renda de farpa tornou-se muito popular e continua a ser uma das mais valorizadas. Entretanto, com o avanço da tecnologia, algumas rendeiras têm utilizado moldes mais sofisticados e padrões pré-desenhados para acelerar o processo de produção, mantendo, no entanto, o trabalho manual como o principal meio de execução.
As gerações mais recentes de rendeiras também têm explorado o uso de novos materiais, como fios sintéticos ou misturas de fibras, para dar às rendas um toque mais moderno e resistente.

INOVAÇÕES E FUTURO
As rendas do Pico estão a atravessar um período de renovação, impulsionado pela nova geração de rendeiras e por um interesse crescente em manter viva esta tradição. Com o apoio de programas de formação e de exposições, as rendas do Pico estão a ser redescobertas por um público mais amplo, que valoriza tanto a beleza como o valor cultural desta prática.
NOVAS GERAÇÕES DE RENDEIRAS
As novas gerações de rendeiras estão a trazer uma nova vitalidade à arte das rendas do Pico. Jovens mulheres, muitas delas descendentes de rendeiras tradicionais, estão a aprender as técnicas e a adaptar-se às novas realidades do mercado, que procura por peças únicas e de alta qualidade artesanal. As escolas de artesanato locais têm desempenhado um papel importante na formação destas jovens, garantindo que o conhecimento não se perca e que a tradição continue a florescer.
INOVAÇÃO NAS RENDAS
A inovação nas rendas do Pico passa tanto pela introdução de novos materiais como pela adaptação de padrões e técnicas antigas a novos contextos. Algumas rendeiras estão a experimentar com cores diferentes e misturas de fios, criando peças mais contemporâneas que mantêm a essência da renda tradicional, mas com um toque moderno. Além disso, novas tecnologias, como máquinas de corte a laser e moldes digitais, estão a ser integradas no processo de criação, permitindo uma maior precisão e velocidade de produção, sem comprometer a qualidade artesanal.

A INOVAÇÃO COM JOANA VASCONCELOS
Há mais de 18 anos que o atelier de Joana Vasconcelos trabalha com rendas, produzidas em
Portugal como segundas peles de diversas peças. A sua intenção sempre foi a de mostrar
produção nacional, nesta área. Para que todas as peças fossem diferentes, apostando na
originalidade, o atelier de Joana Vasconcelos, viajou pelo país à procura de diferentes desenhos
de renda, até que chegou à ilha do Pico.
Em 2006 Joana Vasconcelos decide convidar as rendeiras da ilha do Pico para uma das maiores
empreitadas de sempre, com a produção de centenas de rosas e rosetas que formaram a “segunda
pele” de peças de faiança de Rafael Bordalo Pinheiro, pintadas com vidrado cerâmico.
Foi Maria Lucília, de São Mateus que liderou a encomenda, distribuindo pelas rendeiras, ainda
em exercício, na ilha do Pico a produção de diferentes rosas, rosetas e quadrados.
Desde 2021, que as rendas do Pico estão espalhadas pelo mundo, através das peças de Joana
Vasconcelos.


EXPOSIÇÕES, PRÉMIOS E NOVAS TENDÊNCIAS
As rendas do Pico têm sido apresentadas em várias exposições tanto a nível regional como internacional. Eventos como feiras de artesanato e exposições culturais têm ajudado a promover o trabalho das rendeiras e a dar visibilidade a esta forma de arte. Algumas rendeiras têm sido premiadas por seu trabalho, destacando-se pela inovação e pela capacidade de manter viva uma tradição tão antiga.
Nos últimos anos, novas tendências têm surgido, como o uso de rendas em peças de vestuário contemporâneas e em design de interiores, o que tem ampliado as possibilidades de mercado para estas peças, criando um futuro promissor para a tradição das rendas do Pico.
